Periodontia. Tratamentos para a periodontite

Para a maioria das pessoas a odontologia é a área da saúde que trata exclusivamente dos dentes. Essa afirmação fica evidente quando atendo alguns pacientes que apresentam desconforto bucal e vão logo atribuindo a causa a uma provável lesão cariosa em um dente.

Sintomas como dor, edema, sangramento e sensibilidade térmica são bem comuns na rotina do consultório e cada um deles podem se manifestar de forma conjunta ou isolada quando há algum tipo de alteração na saúde bucal. Para o paciente leigo, todos esses sintomas estão relacionados a problemas dentários, mas será que dente sangra ou incha (edema)?

Para o bom entendimento deste assunto, precisamos conhecer quais as estruturas estão presentes em nossa boca além dos nossos dentes. Isso é primordial para que o paciente possa determinar, mesmo que de uma forma bem simplista, qual é o grau de urgência e o quão breve ele deve procurar um especialista para fazer uma avaliação detalhada e obter um diagnostico e tratamento corretos para o seu problema bucal.

Dito isto, de forma geral, a nossa boca é formada por dentes, língua, gengiva, palato (céu da boca), bochechas e lábios. Temos tanto tecidos moles, como a gengiva, e temos também tecidos duros, como dentes e ossos. Os dentes possuem raízes que estão inseridas no osso alveolar e essas raízes possuem um ligamento (ligamento periodontal) que fixam elas ao osso. A gengiva recobre as raízes, o osso e também servem de sustentação para os dentes. Nomeamos de periodonto (gengiva, ligamento e osso) os tecidos de sustentação dos elementos dentários.

Agora que determinamos as principais estruturas da nossa boca, fica evidente que não podemos mais restringir e atribuir somente aos dentes todos aqueles sintomas determinantes de alterações da saúde na cavidade bucal.

Uma das mais importantes e negligenciadas alterações presentes em nossa boca é a periodontite. Classificamos de periodontite, as inflamações e infecções dos tecidos de suporte dos dentes. Em muitos casos, pacientes com problemas periodontais não tem o devido discernimento do fator deletério e das complicações relacionadas a doença periodontal. A sintomatologia dolorosa presente nestes casos é atribuída a um simples problema dental, mascarando a real gravidade da doença que pode está afetando não só uma única estrutura mas envolvendo várias.

A periodontite é caracterizada por uma inflamação gengival, que já não está limitada à gengiva, como na gengivite. A periodontite ocorre quando gengivite, que é a inflamação e infecção das gengivas, não é tratada ou quando o seu tratamento é adiado. Os quadros infecciosos e inflamatórios passam das gengivas para os ligamentos e ossos que dão suporte aos dentes. A perda deste suporte faz com que os dentes fiquem soltos e acabem caindo.

A periodontite é a principal causa de perda de dentes em adultos. Esse problema não é comum na infância, mas aumenta durante a adolescência. A placa bacteriana e o tártaro se acumulam na base dos dentes. A inflamação causa o desenvolvimento de um bolso (bolsas periodontais) entre as gengivas e os dentes. Essa inflamação, com o tempo, acaba causando a destruição dos tecidos e dos ossos que cercam o dente. Como a placa contém bactérias, é provável que haja infecção também, o que pode levar ao desenvolvimento de um abscesso dentário, aumentando a taxa de destruição óssea.

Apesar de se tratar de um problema que se inicia na boca, infelizmente em alguns casos, o problema não fica restrito a ela. A periodontite pode evoluir para problemas de saúde mais graves e envolver órgãos fora da boca como o seu coração. A endocardite bacteriana é uma complicação grave. Estudos mostram que as bactérias instaladas nas bolsas periodontais podem disseminar-se na corrente sanguínea, alojar-se nas válvulas cardíacas e aderirem aos depósitos de gordura existentes nos vasos do coração, comprometendo a circulação do sangue e o seu funcionamento.

Principais fatores de risco.

O principal fator de risco é o acúmulo de placa bacteriana nos dentes devido à falta de higiene adequada. Outras razões que também influenciam no desenvolvimento da doença são: a predisposição genética, o fumo, o diabetes, uso de determinados medicamentos (antidepressivos), alterações hormonais, desnutrição e fatores psicossociais (depressão e ansiedade).

Sintomas.

Inicialmente, quando o osso e os tecidos responsáveis pela fixação dos dentes ainda não foram danificados, os sintomas mais comuns são: Inchaço, o vermelhidão ao redor dos dentes, exsudato e sangramento espontâneo durante a escovação e uso do fio dental. A medida que o quadro evolui e se agrava, esses sintomas se intensificam. O mau hálito se torna persistente, o paladar fica alterado, presença de pus no espaço gengival próximo ao dente, dentes aparentando estarem mais longos e apresentando maior mobilidade por causa da reabsorção óssea e da retração gengival. Dor é uma queixa nem sempre presente nesses pacientes.

Diagnóstico.

Somente um profissional da área poderá elaborar o diagnóstico correto para cada caso. Esse diagnostico visa determinar o estado da doença, as suas causas e os danos já ocorridos aos tecidos. Normalmente ele é realizado através de: Anamnese (história prévia e atual do paciente e de seus familiares, tempo do surgimento dos sintomas e como começaram), um exame clínico (visa detectar a presença de características clínicas que demonstrem perda de inserção óssea) e exames de imagem como radiografias (servem para avaliar o nível real de perda óssea).

Tipos de periodontites.

Ela pode se apresentar das seguintes formas: Crônica, agressiva e ulcerativa necrosante

A periodontite crônica é a forma mais comum e branda do problema. Nela, a destruição dos tecidos de suporte está relacionada com uma quantidade compatível de fatores locais, como tártaro acima ou abaixo da gengiva. Tem progressão lenta e possui períodos de exacerbação e remissão. Ela é subdividida em local (envolve poucos dentes) ou generalizada (todos os dentes).

A periodontite agressiva ocorre em pacientes saudáveis e sem comprometimento sistêmico quando os fatores locais (quantidade de placa e/ou tártaro) não condizem com o tamanho da destruição, visto que a progressão é muito rápida. Também é subdividida em local ou generalizado, e geralmente tem inicio entre 11 e 13 anos de idade (perda de sustentação ocorre normalmente nos primeiros molares e incisivos e um ou dois dentes além) e em pacientes com menos de 30 anos (perda de sustentação em pelo menos 3 dentes que não sejam os primeiros molares e incisivos).

A periodontite ulcerativa necrosante é o tipo mais grave, possui ação rápida e compromete o osso e ligamento alveolar. Presente nos pacientes fumantes, portadores de HIV e consumidores frequentes de bebidas alcoólicas.

Tratamentos para periodontite.

Os principais objetivos do tratamento da periodontite são reduzir a inflamação, eliminar os bolsos e tratar as causas subjacentes. Eles consistem em: Raspagem periodontal, controle de placa bacteriana e terapia de suporte. Saiba mais –link

A raspagem periodontal é realizada para remoção de tártaro (placa bacteriana dental que endurece na superfície radicular dos dentes) e é uma das principais abordagens para tratar o problema. Superfícies ásperas dos dentes ou aparelhos odontológicos devem ser reparados se houver suspeita de que estejam facilitando o acumulo do tártaro. Em casos mais avançados da doença, a raspagem pode ser acompanhada de cirurgias de acesso ou cirurgias regenerativas para recuperar o tecido periodontal, além da associação de medicações antimicrobianas.

O controle de placa bacteriana supra gengival é primordial para manutenção dos resultados obtidos. Ele é feito pelo paciente em casa. A higiene oral rotineira, meticulosa é necessária após a limpeza dentária profissional para impedir mais destruição.

A terapia de suporte consiste em uma fase de manutenção, com consultas periódicas para acompanhar a resposta do paciente ao tratamento e realização de uma possível intervenção em tempo adequado, em caso de necessidade. Recomenda-se que os pacientes com periodontite façam limpeza dentária profissional mais de duas vezes por ano.

Como prevenir essa doença?

Manter uma boa higiene bucal diariamente, com escovação após as refeições, ao acordar e antes de dormir aliado ao uso do fio dental para limpar as regiões nas quais a escova não alcança, são as minhas principais recomendações. Porém, somente essas atitudes básicas não previnem completamente o aparecimento dessa desordem. A nossa boca passa por inúmeras mudanças durante a nossa vida. Portanto, para garantir um bom controle e intervenção precoce da evolução de doenças e suas complicações é necessário a realização de consultas periódicas e limpezas profissionais regulares nos dentes, pensem nisso.

Desconforto e sangramento

Sangramento gengival é bem comum quando há um processo inflamatório nos tecidos periodontais. Pacientes que não têm o habito de usar o fio dental ou usam da forma errada estão susceptíveis a esse tipo de alteração. Quando o processo evolui, além do sangramento, inchaço e supuração se fazem presentes ocasionando grandes desconfortos e prejuízo a na mastigação.